terça-feira, 24 de abril de 2012

Irmã da Terra na mira


(Astronomia On Line - Portugal) A irmã da Terra está por descobrir, algures, e os cientistas que procuram planetas habitáveis acreditam que estão cada vez mais perto deste alvo.

"Talvez este ano, talvez no próximo - antes de 2014," previu o astrónomo da Universidade de Harvard, Dimitar Sasselov, líder da Iniciativa Origens da Vida de Harvard e co-investigador do projecto do Telescópio Espacial Kepler. A previsão de Sasselov pode parecer arrojada para aqueles que não têm seguido a avalanche de novas descobertas no que toca a planetas em torno de outras estrelas. Desde a simples gota em meados da década de 90, a descoberta de planetas extra-solares, ou exoplanetas, tem rapidamente crescido à medida que os astrónomos desenvolvem novas técnicas e usam novos instrumentos, incluindo o lançamento do Kepler em 2009, especificamente desenhado para descobrir planetas em torno de outras estrelas.

O telescópio já localizou mais de 2300 candidatos a planeta, 61 dos quais foram confirmados como planetas. Os investigadores que usam outros telescópios confirmaram centenas mais. A imagem que daqui emerge é a de um Universo não só rico em planetas, mas um com milhões de planetas localizados na zona habitável da sua estrela, uma órbita não demasiado quente nem demasiado fria onde a água líquida pode suportar condições para a vida. Os planetas mais interessantes dos descobertos nas zonas habitáveis das estrelas são as chamadas "super-Terras", corpos rochosos ou cobertos por água com uma massa até dez vezes a da Terra.

Numa entrevista acerca do lançamento do seu novo livro, Sasselov disse que a ideia veio do seu trabalho na Iniciativa Origens da Vida e da cadeira que lecciona em conjunto com Andrew Knoll, professor de História Natural e professor de Ciências. A disciplina, "Vida como um Fenómeno Planetário," conta com mais alunos a cada ano que passa, chegando aos 400 este ano. A Iniciativa, a cadeira e o livro examinam a vida e o seu papel no Universo a partir de uma perspectiva de duas temáticas que não são normalmente consideradas complementares: astronomia e biologia.

O livro está dirigido para o público em geral e para estudantes sem bases científicas, proporciona uma breve história das investigações que levaram à pesquisa por exoplanetas e pelas origens da vida, até aos nossos dias de hoje, e fornece uma linha geral da ideia que a vida faz parte da evolução natural dos planetas sob certas condições.

"Dessa perspectiva cósmica, podemos olhar para a vida como um processo que pode ocorrer sob condições específicas no Universo, e sob uma química específica," afirma Sasselov. A sua equipa tem desempenhado um papel importante na busca por planetas em torno de outras estrelas e contribuído para o trabalho acerca das moléculas da vida e à formação das primeiras células. Em conjunto, investigadores dos dois campos tentam compreender os processos geoquímicos e as condições ambientais a partir das quais a vida surge no Universo.

Sasselov acrescenta que pela primeira vez, os investigadores reconhecem que a vida, ao invés de ser um raro acidente cómico, surgindo num planeta mas separada dos seus processos físicos, pode na realidade ser parte de um contínuo processo de formação e evolução planetária. Sob esta nova perspectiva, a vida é uma consequência natural - e quem sabe, comum - da geologia, química, e de outros processos, ligados em vez de separados.

"Sempre olhámos para a vida como este fenómeno estranho que está na Terra e não como sendo do planeta," afirma Sasselov.

Um exemplo dramático da vida como fenómeno planetário ocorreu aqui na Terra há milhares de milhões de anos trás, quando organismos unicelulares desenvolveram a fotossíntese, consumindo dióxido de carbono na atmosfera e libertando oxigénio para criar a atmosfera que conhecemos hoje em dia.

Os astrónomos podem ajudar os biólogos ao partilhar as suas descobertas espaciais, realça Sasselov. Através da utilização de técnicas avançadas, podem determinar a composição das atmosferas dos exoplanetas. Assim que se descubra a primeira irmã-gémea da Terra, podemos examinar a sua atmosfera e dar os resultados aos biólogos para melhor compreenderem as condições do começo da vida.

Ao incluir a pesquisa por vida na pesquisa por novos planetas, Sasselov disse ter actualizado o seu próprio trabalho. O novo foco obrigou-o a aprender mais sobre biologia e química e deu-lhe novas perspectivas sobre velhos problemas.

"A astronomia não se importava muito com a biologia. Para mim, tem sido uma lufada de ar fresco na minha carreira", conclui Sasselov. "Podemos questionar muitas coisas diferentes quando olhamos para algo a partir de uma nova perspectiva."

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