terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Telescópio Kepler em repouso



(Cássio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) O ano de 2013 não começou bem para os caçadores de exoplanetas. O satélite CoRoT sofreu uma pane no sistema que faz a transmissão dos dados para a Terra e, mesmo com todos os demais sistemas funcionando bem, já foi dado como perdido. Agora chegam más notícias de outro satélite de busca por exoplanetas: o telescópio Kepler.

A grande maioria dos exoplanetas descobertos é composta por gigantes gasosos, objetos com as dimensões de Júpiter, por exemplo, porque são mais fáceis de se detectar. A missão CoRoT tinha como principal ambição detectar planetas do tipo terrestre, ou seja, planetas rochosos com dimensões compatíveis com as características físicas da Terra. Isso aconteceu em 2009.

A missão Kepler teve início em março de 2009 e seu principal objetivo era detectar exoplanetas rochosos na zona habitável de suas estrelas hospedeiras. A zona habitável de uma estrela é a região onde a quantidade de radiação emitida permite que a temperatura no planeta se mantenha em níveis para que a água exista em estado líquido. Ou seja, nem muito próximo da estrela para que seja quente demais e a água evapore, nem distante demais para que a água se congele. As dimensões dessa zona dependem muito do tipo da estrela.

A estratégia do Kepler é a mesma do CoRoT, ele fica “parado” observando a mesma região do céu durante meses, com uma câmera de grande campo de visada. A ideia é observar a variação de brilho sofrida pelas estrelas quando um planeta passa na sua frente, o famoso trânsito. Com as câmeras e a estratégia de observação, é possível detectar candidatos a planetas rochosos na zona de habitabilidade. E o Kepler já chegou a marca de 2.740 candidatos em 22 meses de operação! Esses casos são considerados candidatos até que sejam confirmados por outro método de medida. Confirmados até agora são 105.

Foi com base nos dados do Kepler que uma equipe de astrônomos do Centro de Astrofísica de Harvard mostrou que uma em cada seis estrelas possui um planeta do tamanho da Terra em uma órbita menor que a de Mercúrio, o que daria pelo menos 17 bilhões de planetas na Galáxia, conforme você leu aqui no G1.

O problema com Kepler é com o sistema de apontamento e estabilização de sua posição. Esse sistema faz uso de 3 rodas de inércia que efetuam o movimento do telescópio a partir da reação das rodas quando se muda a direção de seu eixo. Esse é um mecanismo puramente mecânico que não faz uso de disparos de retrofoguetes, economizando precioso combustível. Sem falar que é um método muito mais preciso.

Acontece que uma das rodas falhou em julho de 2012 e uma quarta roda, usada justamente para casos de emergência, foi colocada em operação para substituí-la. Mas no da 11 de janeiro, o time de engenheiros da NASA detectou problemas nessa roda, que estaria sofrendo um aumento da fricção no seu eixo de sustentação. Depois de completar as operações do dia, a fricção persistia, o que poderia levar a uma completa falha da quarta roda também.

Para tentar sanar o problema, os engenheiros “estacionaram” o satélite em uma posição que não necessita o uso das rodas e aumentaram sua temperatura interna. Nesta posição de repouso e com a temperatura maior, a esperança é que o lubrificante interno da roda diminua a viscosidade e se distribua melhor. Se isso der certo, o atrito do eixo da roda deve diminuir e ela voltará a ser operacional da maneira esperada. O período de repouso deve acabar hoje ou amanhã, se não houver nenhuma mudança de planos.

De acordo com o pessoal envolvido, essa estratégia já foi usada anteriormente com sucesso e, apesar de ser um problema grave, todos estão confiantes de que vai dar certo de novo. Tanto que, numa lista de notícias da missão, uma das astrônomas envolvidas convidou os colegas que têm observações programadas a relaxar e tomar um Muai Tai na praia…

Entretanto, extraoficialmente, o time de engenheiros já admitiu que essa é uma solução paliativa, que aumentará um pouco mais o tempo de vida da roda e que ela deve falhar definitivamente em breve.

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