quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Planeta ‘vivo’ pode ser detectado em 10 anos


(Mensageiro Sideral - Folha) Há uma chance de que o primeiro planeta com vida fora do Sistema Solar seja detectado já na próxima década. O cálculo é da astrônoma Sara Seager, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos Estados Unidos. Segundo ela, em dez anos poderemos ter encontrado até dois mundos com prováveis sinais de atividade biológica ao redor de outras estrelas.

Futurologia? Um pouco, mas não tanta quanto você pode imaginar.

Para chegar a essa conclusão, a pesquisadora canadense (que recentemente recebeu uma bolsa da Fundação MacArthur, destinada somente aos mais brilhantes e ousados cientistas) adaptou a famosa equação de Drake. Criada originalmente em 1961 pelo radioastrônomo Frank Drake, ela servia para estimar o número de civilizações capazes de se comunicar por ondas de rádio na Via Láctea.

Embora tenha se tornado referência para os pesquisadores da Seti (sigla inglesa para busca por inteligência extraterrestre), a equação de Drake desde sempre recebe muitas críticas porque muitos de seus fatores, como o número de planetas que desenvolvem vida inteligente e o tempo de vida médio de uma civilização comunicativa, são puro chutômetro.

A versão revisada da equação de Drake elaborada por Seager é bem mais modesta: ela quer apenas determinar quantos planetas com vida que deixem sinais em sua atmosfera poderão ser detectados com os instrumentos que teremos na próxima década.

Em especial, Seager está contando com o Tess, satélite caçador de planetas americano que está em fase de desenvolvimento e deve ser lançado em 2017, e com o Telescópio Espacial James Webb, sucessor do Hubble, que deve ir ao espaço em 2018.

Ao primeiro caberia descobrir os planetas, e ao segundo analisar sua atmosfera em busca de uma combinação de gases que indicasse a presença de vida (oxigênio e vapor d’água, por exemplo, juntos, são tidos como uma ótima pista).

Confira a equação revisada (e não tenha medo do termo “equação”; é só uma continha simples de multiplicação).

N = N* x Fq x Fhz x Fo x Fl x Fs

N é o número de planetas com gases detectáveis de origem biológica.

N* é o número de estrelas na amostra.

Fq é a fração de estrelas com baixa atividade.

Fhz é a fração de estrelas com planetas terrestres na zona habitável.

Fo é a fração de sistemas observáveis.

Fl é a fração de planetas com vida.

Fs é a fração com assinaturas de gases detectáveis.

Depois de elaborar essa versão revisada da equação de Drake, Seager então passou a estimar todos os termos para chegar a um valor para N, se concentrando na pesquisa de estrelas anãs vermelhas — menores e mais numerosas que as de tipo solar.

O primeiro termo, N*, é o número de estrelas anãs vermelhas que poderão ser investigadas pelo Tess. Estimativas giram entre 30 mil e 50 mil, e Seager opta pela margem mais conservadora: 30 mil.

Os dados do defunto satélite caçador de planetas Kepler permitem estimar quantas dessas estrelas têm planetas do tipo rochoso (entre 1 e 2 vezes o diâmetro da Terra) na zona habitável, região do sistema em que o planeta pode abrigar água em estado líquido na superfície. Seager optou por cruzar esses dados com os do nível de atividade estelar, selecionando apenas as consideradas de baixa atividade. Portanto, ela calcula que Fq x Fhz (número de estrelas “quietas” com planetas na zona habitável) seja igual a 0,15.

Para estimar a fração de planetas que seria efetivamente observável, Seager combina tanto a probabilidade de o sistema estar alinhado apropriadamente com a Terra para permitir sua observação, como a capacidade do James Webb de estudar sua atmosfera. Daí ela estima que a chance é de 1 em 1.000. Portanto, Fo é igual a 0,001.

E aí vem um chute. Como só conhecemos um planeta com vida, não temos a menor ideia de qual a probabilidade de um mundo habitável desenvolver vida. Por isso, para Fl, Seager adota uma postura otimista e crava o valor 100%, 1, o que significa dizer que, sempre que um planeta tem condições adequadas para a vida, ela se desenvolve.

É uma estimativa defensável (dado o fato de que a vida se desenvolveu na Terra assim que foi possível, o que faz pensar que não pode ter sido muito complicado), mas ainda assim ela admite: “Esse fator é puramente especulativo”.

Por fim, ela estima a chance de que um planeta com vida deixe sinais de atividade biológica em sua atmosfera. Na Terra, isso obviamente acontece: o oxigênio em nossa atmosfera não duraria muito se não fosse constantemente reabastecido por criaturas que fazem fotossíntese. Mas Seager opta por um número até certo ponto conservador, sugerindo que em apenas metade dos casos a vida produz traços detectáveis de sua existência na atmosfera. Fs, portanto, seria 0,5.

Ao final temos:

N = 30.000 x 0,15 x 0,001 x 1 x 0,5

N = 2,25

Moral da história: é preciso investigar 15 mil estrelas anãs vermelhas para encontrar um planeta com sinais de vida.

A boa notícia é que, com os novos satélites planejados pela agência espacial americana, até o final desta década teremos os recursos para implementar tal busca.

E o que acontece quando descobrirmos um mundo similar à Terra com possíveis sinais de vida? Noves fora a estonteante descoberta de que não estamos sós, aposto que muita gente vai fazer força para desenvolver tecnologias capazes de enviar uma sonda até lá, transpondo as vastas distâncias interestelares.

Há de ser uma grande aventura, e somos felizes de viver na época em que ela começa. Estamos de volta à Era das Grandes Navegações, só que desta vez elas serão encenadas no espaço. Teremos tecnologia suficiente para cruzar o vazio entre as estrelas? A seguir, cenas do próximo capítulo…

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