terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Gliese 581g: planeta potencialmente habitável - se existir


(Astronomia On Line - Portugal) Gliese 581g é um candidato a planeta extra-solar, dentro de um sistema a apenas 20 anos-luz da Terra. Anunciado pela primeira vez em 2010 como um planeta com uma massa três a quatro vezes a da Terra na zona habitável da sua estrela-mãe, o exoplaneta tem estado sob escrutínio à medida que outras equipas de pesquisa lançam dúvidas sobre a sua existência.

Steven Vogt do Observatório UCO/Lick da Universidade da Califórnia liderou a equipa de astrónomos que viu pela primeira vez o planeta em 2010. No entanto, poucos meses depois, Michel Mayor do Observatório de Genebra na Suíça, dirigiu um outro grupo que não foi capaz de encontrar evidências do planeta. Dois estudos de acompanhamento chegaram a conclusões semelhantes.

Em 2012, o grupo de Vogt publicou outro artigo defendendo os seus resultados e lançando dúvidas sobre os métodos da equipa suíça.

Os resultados da descoberta de 2010 mostravam um planeta em órbita da anã vermelha Gliese 581 a uma distância de 0,15 UA. Embora à primeira vista isto possa não soar como uma distância habitável, uma vez que o planeta está muito mais perto da sua estrela do que a Terra está do Sol, a anã vermelha produz muito menos energia que o Sol. Isto significa que os planetas têm que orbitar muito mais perto a fim de caírem dentro do intervalo de habitabilidade.

É importante realçar que a habitabilidade depende de uma série de factores, que incluem a quantidade de variação da luz da estrela, as condições da atmosfera do planeta e, possivelmente, processos geológicos no planeta propriamente dito (como placas tectónicas). Mesmo assim, a distância do planeta à estrela é um dos passos para reduzir a lista de candidatos a planetas habitáveis.

Gliese 581g é na realidade um entre seis planetas possíveis neste sistema. O planeta irmão 581f foi anunciado na mesma altura. Está a mais ou menos 0,76 UA da estrela, na periferia do sistema planetário da estrela.

Os outros planetas possíveis incluem Gliese 581e (que completa uma órbita a cada 3,15 dias), Gliese 581b, com o tamanho de Neptuno, e as super-Terras Gliese 581c e Gliese 581d. Alguns astrónomos acreditam ser possível que, mesmo que Gliese 581d esteja situado no limite da zona habitável, possa também ser habitável caso um efeito de estufa aqueça a sua superfície.

Gliese 581g e o irmão 581f foram pela primeira revelados ao mundo a 29 de Setembro de 2010. A equipa de Vogt detectou os planetas usando o método de "velocidade radial" que examina mudanças no movimento da estrela, provocadas pelo movimento orbital de um planeta. Os dados foram recolhidos por dois instrumentos: o espectrógrafo HARPS acoplado a um telescópio no Chile, e o espectrógrafo HIRES acoplado no telescópio havaiano Keck.

No entanto, naquele mês de Outubro, uma equipa de Genebra apresentou numa assembleia da União Astronómica Internacional mais dados obtidos pelo HARPS. Foram capazes de detectar quatro dos outros planetas mas, segundo eles, a informação não mostrava Gliese 581g.

"A razão para tal é que, apesar da extrema precisão do instrumento e dos muitos pontos de dados, a amplitude do sinal deste potencial quinto planeta é muito baixa e basicamente ao nível do ruído de medição," afirma Francesco Pepe, astrónomo que trabalha com dados do HARPS no Observatório de Genebra.

Os estudos de acompanhamento também não encontraram 581g. Em 2010, um grupo liderado por Rene Andrae do Instituto Max Planck para Astronomia em Heidelberg, Alemanha, relatou que o grupo de Vogt tinha baseado os seus achados na suposição que os planetas tinham órbitas circulares, uma conclusão que, segundo a equipa alemã, estava incorrecta.

Em 2011, foi publicado um artigo na MNRAS (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society) que usou um diferente método estatístico para interpretar os dados do HARPS e do HIRES. Este grupo, liderado por Philip Gregory da Universidade da Columbia Britânica, também não conseguiu encontrar um sinal que indicasse a existência de Gliese 581g.

Em 2012, no entanto, os descobridores de 581g publicaram um novo estudo com base em dados expandidos da equipa suíça que colocava em questão o seu planeta. Os seus resultados indicavam que 581g existia de facto (581f não aparecia nos dados, mas a equipa disse que usou apenas os do HARPS e que iriam voltar a analisar o assunto mais tarde). Os dados coincidiam desde que os astrónomos assumissem órbitas circulares.

"Eu acredito que a solução de órbitas circulares é a mais defensável e credível" realça Vogt. "Por todas as razões que explicam em detalhe [no artigo], ganha por conta da estabilidade dinâmica, por ajuste, e pelo princípio da Parcimónia (Navalha de Occam)."

Vogt também aponta que o artigo da equipa suíça, até finais de 2012, não tinha sido aceite para publicação (no final de 2013, a listagem no site arXiv diz que foi submetido para publicação na revista Astronomy & Astrophysics). Ele disse que a sua própria equipa foi incapaz de chegar às mesmas conclusões que a equipa suíça a menos que removessem alguns pontos de dados.

"Eu não sei se essa omissão foi intencional ou um erro," afirma. "Só posso dizer que, se é um erro, têm-no feito várias vezes, não só neste trabalho, como também noutros."

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