quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Descobrindo novas Terras


(Cássio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) Vamos dar uma passada rápida no nosso Sistema Solar, olhando apenas os planetas. Sem entrar na polêmica de Plutão e dos planetas anões, dessa vez.

Em ordem de distância ao Sol, temos Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Comparativamente, temos 4 planetas pequenos e rochosos, mais próximos do Sol e temos outros 4 planetas gigantes e gasosos mais afastados do Sol. Uma explicação plausível para esta configuração é que mais próximo do Sol, o material que viria a formar os planetas teve o gelo evaporado, dando origem a planetas rochosos que não conseguiram crescer muito. Isto não aconteceu em lugares mais remotos e mais frios do nosso Sistema Solar em que a presença de gelo favoreceu o crescimento rápido e exagerado de planetas com grande quantidade de material volátil.

Bom, se é assim no nosso "quintal" deve ser assim pela Via Láctea inteira, certo? Errado!

Com a descoberta de mais e mais exoplanetas, o que se viu era que há muitos planetas gigantes e gasosos que estão mais perto de suas estrelas hospedeiras, do que Mercúrio está do Sol, por exemplo! Esses são os famosos "Júpiteres Quentes", gigantes de gás tão próximos de suas estrelas que sua temperatura chega a mil, dois mil graus fácil, enquanto que no nosso Júpiter a temperatura é de 100-200 graus abaixo de zero! Explicações não faltam e a mais aceita até o momento fala da migração desses planetas. Eles se formariam nas regiões propícias para isso, mas por alguma instabilidade em suas órbitas, eles migrariam para órbitas mais próximas de suas estrelas. O cenário geral ainda continuaria valendo.

Mas no terceiro ato dessa história toda entra o satélite Kepler, o caçador de planetas. Sua missão inicial, encerrada há pouco tempo por causa de uma falha mecânica, era a de encontrar candidatos a exoplanetas do tipo da Terra. Em uma pequena área do céu, o satélite encontrou, no total, mais de 4 mil possíveis exoplanetas. Mais do que esse número fantástico, a base de dados do Kepler permite estabelecer, por exemplo, qual a quantidade de exoplanetas em função de seu tamanho. Quais são os tipos de planetas mais comuns, se os gigantes tipo Júpiter, ou os pequenos do tipo da Terra.

A resposta é: nem um, nem outro. Bom, quase isso.

O Kepler mostrou que o tipo mais comum de exoplanetas encontrado no seu programa de observações é o de "super Terra". São planetas rochosos sim, pequenos, mas somente em relação aos gigantes gasosos. Na realidade, os exoplanetas desta categoria têm tamanhos entre o tamanho da Terra e o tamanho de Netuno.

E agora, José?

O tipo mais comum de exoplaneta encontrado nas vizinhanças do Sistema Solar é justamente um tipo de planeta que não existe no Sistema Solar! O Kepler é um excelente instrumento de descoberta de exoplanetas, mas não de estudo deles. Seus dados permitem determinar as órbitas e as massas dos candidatos a exoplaneta (é preciso depois confirmar esses candidatos através de outras técnicas), mas não pode dar nenhuma pista sobre sua composição, atmosfera ou temperatura por exemplo.

Eles poderiam ser uma versão bombada da nossa Terra, rochosos e com atmosfera. Ou, por outro lado, eles poderiam ser Netunos mirrados, apenas uma imensa pedra de gelo envolto numa capa de hidrogênio e hélio. Ou ainda, poderiam um mundo de água: um núcleo rochoso coberto por água, ou a depender da temperatura, um envelope de vapor d'água.

Em suma, não sabemos nada sobre eles!

Ou não sabíamos. Graças a Heather Knutson e sua equipe de estudantes do Instituto de Tecnologia da Califórnia, hoje já temos algumas pistas sobre como são algumas dessas super Terras.

A equipe de Knutson tem utilizado telescópios espaciais, como o Hubble e o Spitzer, para analisar a luz que atravessa a atmosfera dos exoplanetas. Funciona assim, observa-se a estrela hospedeira (ainda não temos condições técnicas para observar os planetas diretamente) em diferentes épocas. Quando o exoplaneta passa diretamente à frente da estrela, a luz que recebemos dela (em parte) foi filtrada pela atmosfera do exoplaneta. Quando essa configuração não acontece, registramos apenas a luz da estrela e, com a comparação entre as duas situações, podemos saber o que causou a "filtragem" da luz.

Com essa técnica já foi possível saber que em 2 desses exoplanetas a atmosfera é densa e que não existe água. Ou que parece não existir hidrogênio nela, o que eliminaria a hipótese de um mini Netuno.

Por enquanto é o que dá para fazer, estudar planetas como a Terra ainda é um desafio tecnológico que os atuais instrumentos não são capazes de vencer. Mas estudar as super Terras, ainda que marginalmente, também interessa. Elas nos dão a chance de estudar um tipo de objeto totalmente desconhecido e que nem sequer tínhamos ideia que existisse!

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