quinta-feira, 16 de maio de 2013

Kepler ajudando o SETI



(Cassio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) Mês passado você leu aqui no blog e também no G1 as notícias a respeito da descoberta de um sistema planetário ao redor da estrela Kepler 62. Só para relembrar, foi descoberto nessa estrela um sistema de 5 planetas do tipo terrestre, sendo que 2 desses são considerados “super-Terras”.

Quando a Nasa iniciou a missão Kepler, lançando um telescópio espacial em 9 de março de 2007, ela iniciou também uma procura incessante por exoplanetas do tipo terrestre. Planetas tipo terrestre são planetas rochosos, que tenham aí massa e tamanhos parecidos com os da Terra. Para atingir esse objetivo, o telescópio do satélite Kepler (que tem 1,4 m de diâmetro) fica apontado para a mesma região do céu, quase que de forma permanente.

Nessa região ele observa em torno de 150 mil estrelas de uma só vez, medindo constantemente seu brilho. Se um planeta passa na frente da sua estrela hospedeira, um evento chamado trânsito, o brilho dessa estrela diminui ligeiramente. Detectando essa variação de brilho repetida e periodicamente ao longo de meses de observação, os astrônomos declaram ter um candidato.

Não é qualquer variação de brilho que origina um candidato. Esse evento precisa se repetir no mínimo 3 vezes. Além disso, vários falsos positivos são gerados por variações de brilho das próprias estrelas, por exemplo por ciclos de manchas estelares, similares às do Sol, ou mesmo por estrelas duplas girando uma em torno da outra, conhecidas como estrelas variáveis. As estrelas suspeitas passam por testes estatísticos que vão eliminando possíveis fontes de variação de brilho que não sejam trânsitos planetários.

A missão Kepler foi projetada para detectar o trânsito de planetas terrestres, do tipo rochoso, que são muito menores e portanto têm muito menos massa que os gigantes gasosos. Essa classe de planetas pode ser descoberta a partir dos puxões gravitacionais que provocam na estrela devido a sua massa elevada. Por esse método, os casos descobertos são considerados casos confirmados de planetas.

Entretanto, esse efeito é imperceptível para planetas menores, por isso os exoplanetas descobertos por esse método são considerados bons candidatos a se confirmarem posteriormente por outros métodos. A missão já identificou 2.740 candidatos com tamanhos estimados variando, desde similares a Mercúrio, até maiores do que Júpiter, sendo um quinto deles chamados de super-terras. As super-terras são planetas cujos raios teriam 1,25 a 2 vezes o tamanho do raio terrestre, 6.400 km mais ou menos.

Voltando para o caso de Kepler 62, o telescópio descobriu um sistema com 5 planetas rochosos, batizados como Kepler 62b até Kepler 62f, com dois deles sendo super-terras. Mas não só isso, 62e (raio 1,6 vezes o raio da Terra e período de 122 dias terrestres) e 62f (raio 1,4 vezes o raio da Terra e período de 267 dias) estariam na tão falada zona de habitabilidade. Essa é uma região do espaço ao redor de uma estrela em que a radiação por ela emitida daria condições de manter a água em estado líquido, o que é essencial para o desenvolvimento da vida como conhecemos.

A estrela em questão, Kepler 62, é um pouco mais fria que o Sol e pouco mais velha, uns 7 bilhões de anos, e isso nos dá uma perspectiva muito interessante. Olha só.

Dois planetas rochosos orbitando uma estrela de 7 bilhões de anos de idade a uma distância propícia para manter água em estado líquido. Se a estrela tem 7 bilhões de anos, o sistema planetário deve ter quase a mesma idade, um pouco menos.

O Sol, por exemplo, tem 5 bilhões de anos e a Terra tem algo em torno de 4,5-4,6 bilhões de anos. Ou seja, são condições muito similares, quase equivalentes. Na Terra, tudo isso combinado resultou no surgimento e desenvolvimento de vida inteligente que é capaz de enviar seres e máquinas ao espaço, mas também construir equipamentos que possam estudar estrelas, planetas e galáxias espalhadas pelo universo. Por que não imaginar que isso tenha ocorrido no sistema de Kepler 62?

O pessoal do SETI, sigla em inglês para Busca por Inteligência Extra Terrestre, imagina que pode e elegeu esse sistema como o sistema ideal para concentrar essas buscas. E elas já começaram.

Os radiotelescópios do SETI foram apontados para a direção desse sistema e estão, dia após dia, captando as emissões vindas de lá em diferentes frequências. Essas observações se repetirão por mais alguns dias ainda e todos os dados serão analisados. Não se espera que seja detectado nenhum tipo tentativa de comunicação conosco, mas se houver mesmo uma civilização tão avançada quanto a nossa, ela deverá ser capaz de produzir ondas de rádio e TV que vazariam para o espaço. Na verdade, as observações do SETI não querem detectar programas de TV ou de rádio, mas sim, atividade anômala que não possa ser explicada pelos modelos de emissão em rádio de estrelas, por exemplo.

Depois de um ano dessas observações, o SETI vai apontar novamente suas antenas para o sistema Kepler 62 e obter um outro conjunto de dados, repetindo o mesmo procedimento do anterior. Aí sim é que se houver alguma atividade anômala é que ela será percebida, após testar todas as possibilidades de fontes naturais de atividade. Essa é uma ideia bastante empolgante e muito promissora do ponto de vista das teorias evolutivas.

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